Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
Por Arley da Cruz
Luziânia, 04 de maio de 2025
A Academia de Letras e Artes do Planalto (ALAP) realizou, neste domingo (04/05), mais uma sessão memorável no calendário cultural de Luziânia. Presidida por Eliezer Bispo, a reunião foi marcada por saudações calorosas aos acadêmicos presentes e por reflexões profundas sobre a trajetória histórica da cidade, que celebrará seus 279 anos em 13 de dezembro.
O ponto alto da sessão foi a palestra do acadêmico e historiador Dr. Tiago Machado, que fez um verdadeiro mergulho no passado da região. Em sua apresentação, Tiago resgatou as origens de Luziânia, abordando desde a chegada dos primeiros retirantes e criadores de gado em 1590, até a instalação da Capitania de Goyaz. Passando por datas marcantes como 1682, com a chegada de Bartolomeu Bueno à futura cidade de Goiás, e 1722, quando seu filho alcançou o Meia Ponte (atual Pirenópolis), o historiador contextualizou o “movimento de refluxo”, momento em que muitos retornaram a São Paulo após o declínio do ciclo do ouro — exceto Antônio Bueno de Azevedo, que decidiu fixar morada em Santa Luzia.
Segundo Tiago Machado, o que sustentou a economia após a queda da mineração foi a pecuária, dando origem ao coronelismo, à exploração dos latifúndios e à miscigenação cultural. “Somos um povo sem identidade parelha, uma mistura rica que fez de Luziânia uma cidade acolhedora e plural”, destacou.
Outros marcos históricos ganharam destaque, como a instalação do primeiro hospital por iniciativa do Padre Bernardo, com a chegada dos jesuítas liderados por Padre Luiz Gama. Também foi lembrado o meteorito que caiu no córrego Cabeça de Negro, fato que atraiu a atenção do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, e o antigo relógio de sol no coreto da cidade, símbolo da medição do tempo e da organização social no passado.
Tiago também criticou o esquecimento de tradições e saberes locais, apontando a perda de propriedades culturais e a falta de encantamento das novas gerações: “Quantos de nós ainda nos lembramos das histórias e tradições da nossa cidade? Mesmo com tantos recursos tecnológicos, nos falta tempo e interesse.”
A Festa do Divino também foi lembrada com carinho, sobretudo pelo episódio em que o então bispo Dom Waldemar tentou retirar a festividade do Santuário de Santa Luzia, sem sucesso. “A festa resiste porque é feita pelo povo, e é o povo que mantém a tradição”, afirmou.
A sessão teve ainda participação do acadêmico Jarbas Marques Silva, que fez menção à mineração em Paracatu (MG) e à atuação das bandeiras enviadas por Antônio Bueno de Azevedo. Jarbas lembrou da emancipação de Cristalina e Santo Antônio do Descoberto, e de personagens como Gelmires Reis, que lutou pela devolução do meteorito de Santa Luzia e pela valorização das minas de Urbano e do Rego dos Escravos.
O Dr. Cecílio Sepulveda ressaltou a importância de sinalizar os marcos históricos da cidade, como o acampamento da Missão Cruls e o tamboril. Segundo ele, “preservar a memória é dar ao turista e ao morador o acesso à alma de Luziânia.”
O acadêmico Dr. Orlando Pinheiro elogiou a palestra de Tiago Machado, a intervenção de Jarbas e a necessidade de preservar símbolos como o Rego dos Escravos, obra de mais de 10 anos e 42 quilômetros, cujo último trecho corre risco de desaparecer. Ele ainda emocionou os presentes com um soneto em homenagem ao tamboril, exaltando os dons da natureza.
Também participaram da sessão os acadêmicos Dr. Cairo Resende, que parabenizou a condução da homenagem, e o próprio Dr. Tiago Machado, que anunciou uma ação simbólica: o plantio de uma muda de tamboril no Parque Ecológico, em alusão aos 50 anos da ALAP. Ele reforçou, ainda, a importância da manutenção do acervo da Casa da Cultura.
Ao final da sessão, foi lida e aprovada a entrada da nova sócia correspondente da ALAP, a Dra. Janaína Costa Vecchia de Castro, reforçando o compromisso da instituição com o saber e a preservação da memória histórica do Planalto Central.
A reunião da ALAP reafirma seu papel essencial como guardiã da cultura, da história e da identidade luzianiense, num momento em que recordar o passado se mostra indispensável para construir um futuro consciente e sustentável.