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Brasília, inaugurada em 21 de abril de 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek, é um marco da arquitetura e da engenharia moderna, com as assinaturas de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Joaquim Cardozo. No entanto, o sonho de transferir a capital federal para o Planalto Central é muito mais antigo, uma visão que remonta a séculos e que foi concretizada graças ao trabalho pioneiro das Comissões Cruls.
A ideia de interiorizar a capital surgiu ainda no período colonial. A figura polêmica do Marquês de Pombal já vislumbrava a necessidade estratégica de proteger a sede do governo de possíveis ataques marítimos, sugerindo sua construção no interior do Brasil.
O impulso decisivo, contudo, veio com a Proclamação da República em 1889. A Constituição de 1891 tornou a interiorização uma determinação legal e imperiosa, estabelecendo em seu Artigo 3º a reserva de uma zona de 14.400 quilômetros quadrados no Planalto Central para a futura Capital Federal.
O então presidente Floriano Peixoto agiu imediatamente, ordenando a criação de uma comissão científica para explorar e demarcar essa área.
Em junho de 1892, partiu para o coração do Brasil a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil. Liderada pelo engenheiro, astrônomo e diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, o belga Louis Ferdinand Cruls, a expedição contava com mais 21 membros, incluindo astrônomos, médicos, geólogos e botânicos.
A jornada épica começou em Uberaba (MG), o fim da linha férrea. De lá, as quase 10 toneladas de bagagem foram acomodadas em lombos de mulas e a Comissão seguiu a cavalo por um longo percurso que durou 8 meses, refazendo as trilhas abertas anteriormente pelo Visconde de Porto Seguro.
A antiga Santa Luzia (hoje Luziânia) surge nesse trajeto como uma das poucas e essenciais paradas de apoio e ponto de referência no vasto e inexplorado Planalto Central.
Guiados por medições e levantamentos astronômicos, os exploradores demarcaram os marcos do famoso Quadrilátero Cruls. Esta região estratégica era o berço das nascentes das bacias dos rios Amazonas, São Francisco e Paraná. De volta ao Rio de Janeiro, a comissão apresentou o detalhado “Relatório Cruls” (1894), que ratificava a viabilidade da transferência da capital.
Em 1894, Cruls chefiou a 2ª Comissão Cruls, com o objetivo de indicar o local específico para a construção da cidade-capital. Para esta etapa, Cruls convidou o renomado engenheiro botânico e civil francês Auguste Glaziou, que defendeu a recriação de um lago que teria existido na região – a ideia do que hoje é o Lago Paranoá.
Infelizmente, os trabalhos de campo foram suspensos bruscamente no final de 1895 por falta de verba, e os pesquisadores tiveram que retornar às pressas, impedindo a conclusão do relatório completo.
A competência técnica da Missão Cruls foi inquestionável. Décadas depois, nos anos 50, o estudo conhecido como Relatório Belcher confirmou a pertinência da área, indicando o Sítio Castanho, que abrangia os municípios goianos de Formosa, Planaltina e Luziânia. A análise final pelo Marechal José Pessoa confirmou a escolha de um dos locais sugeridos pelos pioneiros: a área entre os rios Gama e Torto, onde Brasília foi construída.
Luziânia, a antiga Santa Luzia, é reconhecida como uma das “cidades-mãe” da região, não apenas por sua antiguidade (fundada em 1746), mas por ter sido um ponto de apoio fundamental e integrante da área que deu origem ao Distrito Federal.
FONTE
https://www.arquivopublico.df.gov.br/exposicao-comissoescruls