Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
Por Rede Luziânia de Comunicação
Data: 01 de junho de 2025
Em uma cerimônia marcada por emoção, reverência à memória e reafirmação de compromissos culturais, o jornalista e comunicador Arley da Cruz foi empossado no último sábado (28) como novo membro da Academia de Letras e Artes do Planalto (ALAP), assumindo a Cadeira nº 18. O evento foi realizado na sede da Academia e contou com a presença de acadêmicos, familiares, amigos, artistas, professores, autoridades locais e representantes da sociedade civil comprometidos com a valorização da cultura e da história regional.
A ALAP é reconhecida como uma das mais importantes instituições culturais do Centro-Oeste, desempenhando, há décadas, um papel fundamental na preservação da memória artística, literária e histórica de Luziânia e do Planalto Central. Em um cenário marcado por rápidas transformações urbanas e sociais, a Academia tem sido o esteio de um patrimônio simbólico que corre o risco de ser perdido. Ali, resistem as vozes da literatura, da pintura, da música, da crônica, do teatro e da história oral, como trincheiras da identidade coletiva.
Em um discurso marcado por gratidão, reflexão histórica e compromisso com a cultura, Arley assumiu sua cadeira na Academia de Letras e Artes do Planalto (ALAP), emocionando os presentes com palavras que mesclam memória, identidade e esperança. Dirigindo-se ao presidente Eliezer Bispo, ele iniciou agradecendo a Jeová Deus pela vida e saúde, sua família, amigos e colegas, destacando a importância de sua esposa, Mary Helen, e de seus filhos, Heitor Eloi e Lídia de Paula.
A data de 1º de junho, início do outono, foi escolhida simbolicamente para marcar essa nova etapa. Arley descreveu a estação como um período de luz e friagem, metáfora das dualidades da vida — entre o calor das conquistas e a frieza das ausências; entre o brilho dos sonhos e as sombras do tempo. Sua fala seguiu com uma homenagem aos antecessores da Cadeira Nº 18, que tem como patrono Marciano Aguiar, homem público conhecido por sua generosidade e firmeza de caráter.
Arley relembrou Antônio Ribeiro Junior, o primeiro ocupante da cadeira, cuja ligação com Paracatu (MG) ecoa suas próprias raízes familiares. Com emoção, citou a memória de sua saudosa genitora, Maria Moreira da Cruz, também natural de Paracatu, reforçando os vínculos afetivos e históricos que entrelaçam sua história pessoal com os caminhos da cultura e da ancestralidade do Planalto Central.
Um dos momentos mais impactantes foi quando Arley destacou o papel da mão de obra negra na construção de Luziânia. Questionando a história oficial, ele afirmou: “Quem você acha que construiu todas as belas casas que resistem ao tempo? Foi mão de obra negra. Luziânia foi forjada por mão de obra negra.” Suas palavras trouxeram à tona uma narrativa muitas vezes esquecida, lembrando que a riqueza arquitetônica da região tem uma dívida histórica com o trabalho escravo.
Outro trecho significativo foi a menção ao Meteorito de Santa Luzia, de 1,9 tonelada, hoje no Museu de Astronomia do Rio de Janeiro. O fato serviu como símbolo da conexão entre Luziânia e o universo, mas também como crítica à perda de patrimônios locais para instituições distantes. Arley ainda enalteceu o trabalho da ALAP, destacando a importância da cultura como força viva e coletiva, dizendo: “A Academia só existe por causa das pessoas. A cultura é nossa vida.”
O discurso se encerrou com versos de Antonio Machado e Chico César, além de uma citação de Cora Coralina sobre resistência e escolhas. “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar”, disse, sintetizando sua mensagem de esperança. Suas palavras não apenas celebraram sua posse, mas também reforçaram o papel da cultura como alicerce para a identidade e o futuro do Planalto Central.
A saudação ao novo acadêmico foi feita pelo confrade José Álfio da Silva. Ao destacar a importância da ALAP no contexto histórico e cultural de Luziânia, afirmou:
“Muitos a colocaram como ideário de contenção do ciclo renovador que se interiorizava pelo espaço geográfico e ideológico da cidade através da construção de Brasília, e muitos a instrumentalizaram como dique harmonizador dessas variantes culturais. Entretanto, lanço a pergunta: o que seria da nossa arte, se não fosse a Academia? Ruiria como os carcomidos esteios da aroeira, que suportam o peso do velho telhado sobre as paredes desbotadas e trincadas da arquitetura vernacular?”
Ele também recordou os feitos históricos da instituição, citando artistas como Amauri Meneses, Aluísio Santana e D.J. de Oliveira, e exposições realizadas na casa que marcaram época, atraindo estudantes e colecionadores como Terezinha Roriz, Dilermando Meireles, Edézio Machado, Dr. Cecílio, Dr. Lincoln Magalhães, Jarbas Marques e Gastão Leite.
José Álfio também compartilhou um momento histórico ao lado de Arley, relembrando o trabalho conjunto de mapeamento e diagnóstico dos casarões históricos da cidade, no início dos anos 2000:
“Saímos pelas ruas com prancheta e máquina fotográfica na mão, visitando a maioria dos casarões. O resultado foi surpreendente. Produzimos um dossiê, verdadeiro registro da nossa paisagem. Muitos daqueles casarões foram demolidos. Mas o que fizemos foi semear a preservação.”
Durante seu pronunciamento, Arley ainda homenageou os antigos ocupantes da Cadeira 18 — Antonio Ribeiro Junior, Olinda Rocha Lobo e Elisete Alves dos Santos Costa — e resgatou aspectos importantes da formação cultural de Luziânia, como a contribuição da população negra na construção da cidade e a queda do histórico Meteorito de Santa Luzia em 1922.
Arley agradeceu a servidores da ALAP — Valquíria, Marília e Nailia — e ao ex-presidente Tiago Machado, que o incentivou a integrar a Academia. Também relembrou com emoção as lições de seu pai, o fotógrafo Lídio Pereira Junior, e o início de sua carreira como repórter e fotojornalista, que culminou na fundação da Rede Luziânia de Comunicação.
Estiveram presentes na solenidade o ex-vice-prefeito Didi Viana e sua esposa, a ex-vereadora Cassiana Tormin, o professor da UEG Adalberto Félix, além de outros intelectuais, jornalistas e educadores que reconhecem a importância da ALAP no contexto regional. Após a cerimônia, os acadêmicos teceram comentários elogiosos ao discurso de Arley da Cruz, destacando sua sensibilidade, conhecimento das causas culturais e profunda conexão com a memória viva da cidade.
Ainda durante a sessão, foi aprovada a entrada da Dra. Janaína Costa Vecchia de Castro como nova membra da Academia, cuja posse está prevista para os próximos meses.
Encerrando a cerimônia, os presentes se confraternizaram com um coquetel no salão da ALAP, celebrando o fortalecimento da instituição e o compromisso renovado com a valorização da arte, da literatura e da história do povo luzianiense e do Planalto Central.